Um novo fenômeno social está se consolidando em
diversas partes do mundo: a convocação de mobilizações e protestos sociais a
partir do uso de redes sociais da internet. Em alguns países, essas
manifestações levaram a conseqüências políticas mais sérias, em outros não.
Mas, ninguém pode negar que estamos presenciando um novo tipo de fenômeno
social.
No último dia 7 de setembro, por ex., os noticiários
brasileiros deram destaques a diversas manifestações contra a corrupção no
Brasil. Sem entrar em discussão aqui sobre o problema da corrupção no Brasil
–que não é só culpa ou responsabilidade dos políticos, pois há corruptores da
área privada– ou da democracia nos países árabes, eu quero focar a atenção
sobre esta novidade de manifestações sociais mais ou menos espontâneas através
do uso de redes sociais.
Uma das características desses movimentos é que não há
um líder carismático ou político visível, nem um partido ou um grupo político dirigindo
por detrás dessas manifestações. As redes sociais, como facebook ou twitter,
permitem que insatisfações sociais dispersas se articulem de uma forma mais ou
menos "espontânea”, como um vírus que se espalha e se multiplica aproveitando
dessa insatisfação.
Diante dessa realidade social nova, há muitos que
proclamam que a era da política ou das articulações políticas já passou e que
vivemos agora o tempo das mobilizações sociais que prescindiriam do campo
político para gerar transformações sociais ou para criar uma sociedade
alternativa. No fundo, a nova tecnologia possibilitaria o sonho antigo de uma
sociedade sem política, isto é uma sociedade sem Estado: uma sociedade
anarquista.
O interessante é que a ideologia ainda dominante no
mundo, o neoliberalismo, é também uma proposta de uma sociedade sem Estado, ou
com o mínimo de Estado necessário; utopia de uma sociedade baseada somente nas
relações de mercado. Parece que muitos procuram uma alternativa à globalização
neoliberal sem romper com o mesmo princípio: o fim do Estado; e veem nessas
mobilizações descentralizadas o caminho para nova sociedade.
O problema é que uma sociedade alternativa não pode ser
pensada como um movimento perpétuo, sem institucionalizações ou regras que
estabeleçam uma "normalidade”. Penso aqui a normalidade no duplo sentido: a) no
sentido de normal, isto é, de procedimentos e hábitos que realizamos sem ter
que pensar a cada momento; b) no de normas, de regras, que fazem todos
aceitarem os mesmos limites dentro dos quais a liberdade é exercida na relação
cotidiana com outras pessoas e com a sociedade.
É claro que essas mobilizações sociais contra a
corrupção, que se tornou endêmica ao nosso sistema político, são importantes e constituem
um bom sinal. Mas, não podemos esquecer que essas mobilizações precisam
impactar e influenciar o campo político, sem deixar de ser cooptado por este.
Pois, sem novas regras e procedimentos políticos e novas leis, não é possível
realizar mudanças estruturais na sociedade; muito menos criar um novo patamar,
eticamente superior, de "normalidade” na vida pública.
Protestar e resistir são momentos importantes, mas não
são suficientes. É preciso também pensar nos passos seguintes de ação política
e social visando criação de uma nova institucionalidade eticamente superior,
socialmente mais justo e politicamente mais democrático.
Jung Mo Sung
Coord. Pós-Graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo
Fonte: www.adital.com.br
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