Em
abril de 2005, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) criou um
painel eletrônico que anualmente calcula os impostos arrecadados pela
União, estados e municípios. Apelidado de impostômetro, o painel está
instalado na sede da ACSP e tornou- se umas das principais peças
publicitárias da campanha das elites pela diminuição dos impostos
cobrados no país. Para isso, não lhe faltam espaços na mídia. Em
setembro, quando o painel registrou a cifra de R$1 trilhão de impostos
pagos pelos brasileiros, meia dúzia de palhaços – assim estavam
caracterizados - assoprando apitos em frente ao painel, apareceram como
sendo uma manifestação popular nas principais mídias da imprensa
burguesa.
Alinhado com esse interesse da classe dominante, o PTB
paulista está usando seus espaços na mídia para também atacar a
cobrança de impostos. Esforça-se para fazer a população acreditar que
levará para casa mais comida e remédios se os impostos diminuírem. Se a
burguesia, com seus partidos políticos de aluguel, estivesse realmente
preocupada em resolver os problemas que afetam o povo, não seríamos um
país campeão em desigualdade social e não ocuparíamos a 72ª posição no
ranking da Organização Mundial de Saúde (OMS) de investimentos em
saúde.
É evidente que o sistema tributário brasileiro precisa
ser repensado e reestruturado com uma nova legislação. Não para atender a
elite, já abastada de riquezas e privilégios.
Para o professor
João Sicsu, do Instituto de Economia do Rio de Janeiro, o sistema
tributário brasileiro é injusto e regressivo, possui uma estrutura
concentradora, uma vez que sacrifica mais os de abaixo e alivia os de
cima. Por isso, para Sicsu, há a necessidade de mudanças, a fim de que o
país tenha um sistema tributário socialmente justo, que adquira um
caráter distributivo da riqueza, que possibilite o Estado adotar gastos
públicos, que promova a igualdade de acesso e oportunidades à população e
que impeça as grandes riquezas de se evadirem do país, legal ou
ilegalmente, com o objetivo de se eximir de seu dever contributivo.
O
Instituto Nacional de Estudos Socioeconômicos (Inesc) estima que de US$
60 bilhões saíram do Brasil diretamente para paraísos fiscais em 2009.
Certamente essa fortuna não alimentou os dados do impostômetro da ACSP.
O
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), num estudo
recentemente apresentado, atesta que 47,3% da carga tributária advém de
impostos sobre consumo e 26% da folha salarial. Já a renda contribui
apenas com 19,8% e a propriedade e as transações financeiras com míseros
4,9%. As famílias brasileiras mais pobres gastam 32% da sua renda em
impostos. Já a carga tributária das famílias mais ricas é de 21%.
Ainda
de acordo com o professor Sicsu, o atual sistema tributário assegura
isenção de pagamentos de impostos sobre jatinhos, helicópteros e
lanchas; o imposto sobre heranças, cobra alíquotas em torno de 4%; nos
países desenvolvidos, pode chegar a 40%. Em 2010, do total da receita
federal de R$ 826.065 milhões, o Imposto Territorial Rural (ITR)
contribuiu com R$ 536 milhões, ou seja, 0,07% do total. É sobre essa
estrutura tributária que os idealizadores do impostômetro exigem
mudanças?
Não restam duvidas, no entanto, que a elite, mais uma
vez, conseguiu aprisionar o Congresso Nacional aos seus interesses, na
hora de definir o aumento de recursos financeiros para o setor de saúde.
Há o consenso de que setor precisa de mais verba. Mas, com receio da
mídia, os parlamentares não aprovaram a Contribuição Social da Saúde
(CSS), proposta pela presidenta Dilma Rousseff. Pela proposta, seria
cobrado apenas 0,1% da movimentação financeira, medida que garantiria
quase R$ 20 bilhões para a saúde. E o tributo seria cobrado de quem
recebe acima do teto previdenciário, hoje estabelecido em R$ 3.589. Ou
seja, cerca de 95% da população estaria isenta do tributo. Mesmo assim o
Congresso se rendeu à impostura do impostômetro.
A coragem e
clareza política que faltaram aos parlamentares, manifestaram-se no
diretor geral do Hospital do Coração (Hcor) e ex-ministro da Saúde, Adib
Jatene, quando, em entrevista à Carta Maior, foi enfático ao afirmar
que “quem controla a mídia faz a população acreditar que a carga
tributária é insuportável. Mas, se você tirar a Previdência Social do
orçamento, e a Previdência é um dinheiro dos aposentados que o governo
apenas administra, vai ver que a nossa carga tributária está abaixo de
30%. É pouco para um país como o Brasil.”
As necessidades do
povo brasileiro exigem dos governantes a ousadia de aprofundar as ações
que promovam o combate à pobreza e assegurem a transferência de renda e
universalização dos direitos à saudade, educação e moradia. Vencer esses
desafios certamente exigirá enfrentar os interesses dessa elite
idealizadora de impostômetros, depositária de riquezas nos paraísos
fiscais e sem nenhuma identificação com os interesses do país e do povo
brasileiro.
Editorial Ed. 448
Fonte: Brasil de Fato
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