Recentemente,
as Organizações Globo publicaram um extenso documento contendo os
princípios editoriais para o jornalismo praticado por todos os seus
veículos. Vale a leitura. De cima a baixo, dá para concordar com 90%. A
questão, mais do que nos outros 10%, está no quão longe as empresas do
grupo estão de tornar esses princípios efetivos na prática.
O
grande problema é que o estabelecimento desses princípios (e o
monitoramento de seu cumprimento) não são uma questão de ordem privada. O
papel que uma emissora de TV do porte da Globo cumpre é necessariamente
público, para o bem ou para o mal. E a garantia de princípios
democráticos também deve seguir parâmetros públicos.
Num
país em que os únicos meios de comunicação universalizados são rádio e
TV, é fundamental que esses veículos reflitam a pluralidade e a
diversidade de opiniões e valores da sociedade. Por conta de um processo
histórico, de fortes componentes econômicos, políticos e culturais, a
Globo é hoje a emissora mais assistida, com cerca de 50% da audiência
média nacional. Isso significa que o conteúdo que veicula tem enormes
implicações na formação da opinião pública brasileira. Portanto, parte
do equilíbrio da democracia brasileira depende da maneira como se
comporta a emissora.
Se ela seguisse os próprios
princípios, certamente a democracia estaria melhor. No documento, a
Globo diz que “o contraditório deve ser sempre acolhido”. Esse princípio
é descumprido diariamente. O documento também fala que o corpo de
comentaristas e colaboradores dos veículos deve ser plural,
“representando o arco mais amplo de tendências legítimas em uma
sociedade democrática”. Alguém já viu algum deles defendendo ideias
parecidas com as que veicula, por exemplo, este Brasil de Fato?
O
Brasil precisa urgentemente reformar suas leis na área de comunicação
para garantir diversidade e pluralidade em seus meios de comunicação.
Sem isso, seguiremos dependendo da boa vontade das emissoras e de sua
coerência com os próprios princípios, que podem ser bons em teoria, mas
que na prática estão muito longe de se efetivar.
João Brant
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/content/fa%C3%A7am-o-que-digo
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