Querem
saber de algo que me tira do sério? É só falar pra mim que o povo é o culpado
pela situação de pobreza e abandono em que vivem. Perco a compostura, assumo,
mas no meu entender tal afirmação é totalmente descabida, é desconsiderar todo
histórico de opressão vivida pela classe trabalhadora. Quem em plenas condições
de liberdade aceita viver explorado diariamente?
Nos culpam
pela corrupção dos políticos, nos culpam pela falta de funcionamento dos
aparelhos sociais, por tudo que dá errado somos nós, trabalhadores os culpados.
O problema é que a classe dominante impregnou na mente de todos que a
participação do povo na política restringe-se somente ao voto. E ai daqueles
que ousarem fazer o contrário.
O pior de
tudo, é que isso se torna senso comum, e o próprio povo começa a se condenar
pelo seu sofrimento, como que num ato de autoflagelo. Antes de condenar a nós
mesmo, é importante considerarmos alguns pontos:
1-Lobo
disfarçada de cordeiro, a elite sempre apresenta planos que à primeira vista é
voltada para beneficiar o trabalhador, como disse Darcy Ribeiro, nada do que
interessa vitalmente ao povo preocupa de fato à elite,o número e a qualidade da
alimentação popular não podia ser mais escassa, nem pior, e a condição das escolas,
a que o povo tem acesso, é tão ruim, que elas produzem de fato mais analfabetos
que alfabetizados.
2- A
estrutura do estado cumpre perfeitamente o seu papel de administrador dos
problemas sociais, sempre visando a supressão de direitos da classe trabalhadora.
3- O
clientelismo tornou o trabalhador refém de uma burguesia capaz de punir a todo
custo aqueles que ousarem se desvencilhar desse ciclo vicioso de condição de
dívida.
4-É criado
um estado de tensão e medo para manter o sistema de opressão e exploração numa
crescente constante.
5-Os meios
de comunicação nas mãos da elite, é uma das ferramentas de criminalização e
alienação do povo, intimidando quem se dispõe à lutar.
6-O
processo eleitoral é um meio esgotado de se modificar a estrutura do Estado a
favor do trabalhador, uma vez que todas as condições citadas acima não permitem
ao povo liberdade para escolher em quem votar, perpetuando assim sempre as
mesmas figuras e famílias presentes no arcabouço estatal.
Diante de
tudo isso, dizer que o nosso sofrimento é nossa própria culpa é escolher por
não aceitar a verdade. Mas, apesar de todas as condições na qual são postas a
classe trabalhadora, vivemos num momento de ascensão na luta de classes. Muitas
ações, mesmo que de forma espontânea, é uma amostra do despertar mínimo de
consciência do povo, ao perceberem que nada lhes será dado de presente e se não
forçarem as condições para garantirem seus direitos continuarão abandonados por
todas as esferas governamentais. No entanto, a paciência nesse caso é uma
virtude necessária, pois o processo de libertação de um histórico de opressão
não acontece da noite para o dia, a luta social é um processo extremamente
dinâmico e os inimigos do povo a cada dia muda sua forma de agir para
garantir-se no poder.
Trabalhadores
e trabalhadoras a culpa não é nossa, a culpa é de todo aparato estatal arquitetado para defender a burguesia corrupta
do nosso país.
Por Maria
Fernanda Linhares
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