A
7 de setembro, data da independência do Brasil, ocorreu algo novo: as ruas
foram ocupadas por mobilizações populares convocadas através da internet.
As
pessoas saíram em passeatas para protestar contra a corrupção, o sucateamento
da educação, e por reforma agrária e auditoria da dívida pública, entre outros
temas. E fizeram questão de imprimir às manifestações caráter apartidário. Quem
se atrevesse a desfilar com sigla de partido político era imediatamente
rechaçado. Ali, no 7 de setembro, uniram-se o Grito dos Excluídos e o grito dos
indignados.
As
ruas do Brasil, até então acostumadas a ver, nos últimos tempos, apenas
manifestações de evangélicos, gays e defensores da liberação da maconha,
voltaram a ser palco de pressão política e reivindicação popular.
O
poder convocatório das redes sociais é inegável. Elas possuem uma capilaridade
que supera qualquer outro meio de comunicação. E carecem de censura ou editoração
falaciosa.
Há,
contudo, duas limitações que podem afetar seriamente os efeitos da mobilização
internáutica. A primeira, a falta de proposta. Não basta gritar contra a
corrupção ou aprovar a faxina operada pela presidente Dilma Rousseff. É preciso
exigir reforma política, e propor critérios e métodos.
Reforma
política com o atual Congresso – composto, em sua maioria, por parlamentares
capazes de absolver uma deputada federal flagrada e filmada recebendo propina –
é acreditar que Ali Babá é capaz de punir os 40 ladrões...
É
preciso, primeiro, reformar, ou melhor, renovar o Congresso para, em seguida,
obter reforma política minimamente decente. De modo que sejam instituídos
mecanismos que ponham fim às duas irmãs gêmeas madrinhas da corrupção: a imunidade
e a impunidade.
Essa
renovação deve se iniciar, ano que vem, pela eleição de prefeitos e vereadores,
todos submetidos ao crivo da Ficha Limpa, e pressionados a apresentar metas e
objetivos, como propõe o Movimento Nossa São Paulo.
A
segunda limitação é o caráter apartidário das manifestações. Em si, é positivo,
pois impede que algo nascido da mobilização cidadã venha a se converter em
palanque eleitoral deste ou daquele partido político.
Porém,
na democracia não se inventou algo melhor para representar os anseios da
população que partidos políticos. Eles fazem a mediação entre a sociedade e o
Estado. O perigo é as manifestações não resultarem na eleição de candidatos
eticamente confiáveis e ideologicamente comprometidos com as reformas de
estruturas, como a política e a agrária. Ou desaguar no pior: o voto nulo.
Quem
tem nojo de política é governado por quem não tem. E os maus políticos torcem
para que tenhamos todos bastante nojo de política. Assim, eles ficam em paz,
entretidos com suas maracutaias, embolsando o nosso dinheiro e ampliando suas
mordomias e seus patrimônios.
As
redes sociais são, hoje, o que a ágora era para os gregos antigos e a praça
para os nossos avós – local de congraçamento, informação e mobilização. Foram
elas que levaram tunisianos e egípcios às ruas para derrubar governos
despóticos. São elas que divulgam, em tempo real, as atrocidades praticadas
pelas tropas usamericanas no Iraque e no Afeganistão.
As
redes sociais têm, entretanto, seu lado obscuro e perverso: a prostituição virtual
de adolescentes que exibem sua nudez; o estímulo à pedofilia; a difusão de
material pornográfico; o incitamento à violência; a propaganda de armas; o
roubo virtual de senhas de cartões de crédito e contas bancárias.
Espero
não tardar o dia em que as escolas introduzirão em seus currículos a disciplina
Redes Sociais. Crianças e jovens serão educados no uso dessa importante
ferramenta, aprimorando o olhar crítico, o senso ético e, em especial, a
síntese cognitiva, de modo a extrair sentidos ou significações do incessante
fluxo de informações e dados.
Graças
à internet, qualquer usuário pode se arvorar, agora, em sujeito político e
protagonista social, abandonando a passivo papel de mero espectador. Resta
vencer o individualismo e o comodismo e sair à rua para congregar-se em força
política.
Por Frei Betto
Fonte: Adital
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