Os assassinatos de lideranças no Pará não cessam, e a lista dos marcados para morrer só aumenta a cada dia, será esse problema conivência do Estado?
Padres, freiras, sindicalistas, trabalhadores rurais, militantes sociais é imensa a lista dos ameaçados de mortes e cresce proporcionalmente à medida que as correlações de forças entre as classes se acirram.
As denúncias das ameaças de morte, os pedidos de proteção da justiça por ativistas sociais sintetizam a lei imperante no Pará: Obediência ou morte.
Todos os assassinatos no Pará são antes de tudo mortes anunciadas, uma forma de se coibir a atuação e surgimento de novas lideranças em defesa da vida e da justiça.
Num estado de coisas, vidas são listas com preços compensatórios a quem findá-la. Temos então consórcios de fazendeiros, latifundiários comprometidos em levantar fundos para pagarem a execução. Os mandantes são juízes de um julgamento sem direto a defesa, e os jagunços os responsáveis pela garantia do cumprimento da pena.
De cara para o crime, estamos de frente para mais um corpo estendido no chão. Todos sabem quem mandou matar, quem matou, todos sabiam bem antes o acontecimento do fato agora ocorrido, a morte.
Extrativistas, agricultores, trabalhadores, acima de tudo homens e mulheres vítimas do avanço do capital na destruição e expropriação dos recursos naturais, num sistema onde o coletivo torna-se privado, vidas são obstáculos do progresso.
E o Estado num emaranhado de conflitos de interesses opta pela solidariedade ao capital, fazendo vistas grossas às vidas ceifadas pela ganância. No instante do assassinato o alarde como se fosse uma novidade, depois o esquecimento e está pronto o cenário para a próxima vítima.
Numa região onde boi vale mais do que gente, numa situação de ausência de proteção total pela justiça, a sensação é de que o trabalhador está errado em produzir, em querer forjar as condições para viver dignamente em comunidade.
O faroeste continua, mas o silêncio será sempre quebrado por uma coragem súbita tomada por homens e mulheres cansadas de viver na subserviência de uma relação social onde o que impera é alei do mais forte, mesmo sabendo do risco serem cobrados com a vida pelo ato de rebeldia. Desta vez foi a hora de Valdemar Barbosa, amanhar de quem será?
A única certeza é de que o Estado nada fará para por fim a esse conflito.
Por Paulo Villa Real
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