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"Se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros". (Che Guevara)

sábado, 27 de agosto de 2011

Mais um corpo no chão, mais um número na estatística


Os assassinatos de lideranças no Pará não cessam, e a lista dos marcados para morrer só aumenta a cada dia, será esse problema conivência do Estado?
Padres, freiras, sindicalistas, trabalhadores rurais, militantes sociais é imensa a lista dos ameaçados de mortes e cresce proporcionalmente à medida que as correlações de forças entre as classes se acirram.
As denúncias das ameaças de morte, os pedidos de proteção da justiça por ativistas sociais sintetizam a lei imperante no Pará: Obediência ou morte.
Todos os assassinatos no Pará são antes de tudo mortes anunciadas, uma forma de se coibir a atuação e surgimento de novas lideranças em defesa da vida e da justiça.
Num estado de coisas, vidas são listas com preços compensatórios a quem findá-la. Temos então consórcios de fazendeiros, latifundiários comprometidos em levantar fundos para pagarem a execução. Os mandantes são juízes de um julgamento sem direto a defesa, e os jagunços os responsáveis pela garantia do cumprimento da pena.
De cara para o crime, estamos de frente para mais um corpo estendido no chão. Todos sabem quem mandou matar, quem matou, todos sabiam bem antes o acontecimento do fato agora ocorrido, a morte.
Extrativistas, agricultores, trabalhadores, acima de tudo homens e mulheres vítimas do avanço do capital na destruição e expropriação dos recursos naturais, num sistema onde o coletivo torna-se privado, vidas são obstáculos do progresso.
E o Estado num emaranhado de conflitos de interesses opta pela solidariedade ao capital, fazendo vistas grossas às vidas ceifadas pela ganância. No instante do assassinato o alarde como se fosse uma novidade, depois o esquecimento e está pronto o cenário para a próxima vítima.
Numa região onde boi vale mais do que gente, numa situação de ausência de proteção total pela justiça, a sensação é de que o trabalhador está errado em produzir, em querer forjar as condições para viver dignamente em comunidade.
O faroeste continua, mas o silêncio será sempre quebrado por uma coragem súbita tomada por homens e mulheres cansadas de viver na subserviência de uma relação social onde o que impera é alei do mais forte, mesmo sabendo do risco serem cobrados com a vida pelo ato de rebeldia. Desta vez foi a hora de Valdemar Barbosa, amanhar de quem será?
A única certeza é de que o Estado nada fará para por fim a esse conflito.
Por Paulo Villa Real

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