No primeiro semestre deste ano, aplicou-se a Prova ABC
(Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) em turmas de alunos
que concluíram o 3º ano do ensino fundamental, em todas as capitais do país.
Uma iniciativa do movimento Todos pela Educação com o Inep (Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
O resultado é alarmante. Constatou-se que 43,9% dos alunos
são deficientes em leitura e 46,6% em escrita. Ou seja, são semialfabetizados.
Não captam o significado do que leem e redigem uma simples carta com graves
erros de sintaxe e concordância.
Quanto à leitura, quase metade (48,6%) dos alunos da rede
pública correspondeu ao resultado esperado. Na rede de escolas particulares, o
desempenho foi bem melhor: 79%. No item escrita tiveram bom resultado apenas
43,9% dos alunos da rede pública. Na rede particular, 86,2% dos alunos se
saíram bem em redação.
Os índices demonstram que, no Brasil, a desigualdade social
se alia à desigualdade educacional. Alunos da rede pública, oriundos, na
maioria, de famílias de baixa renda, não trazem de berço o hábito de leitura.
Seus pais possuem baixa escolaridade e o livro não é considerado um bem
essencial a ser adquirido, como ocorre em famílias de renda mais elevada.
De qualquer modo, é preocupante o fato de alunos, tanto da
rede pública quanto da particular, não atingirem 100% de alfabetização ao
concluir o 3º ano do ensino fundamental. O que demonstra falta de método de
alfabetização, embora esta seja a nação que gerou Paulo Freire.
Uma criança que, aos 8 anos, tem dificuldade de leitura e
escrita, sente-se incapaz de lidar com os textos de outras disciplinas
escolares, o que prejudicará seu aprendizado. Uma alfabetização incompleta
constitui um incentivo ao abandono da escola ou a uma escolaridade medíocre.
É hora de se perguntar se a progressão automática, isto é,
fazer o aluno passar de ano sem provar estar em condições, é uma pedagogia
recomendável. Com certeza, no futuro, o adulto com insuficiente escolaridade
não merecerá aprovação automática em empregos que exigem concurso e
qualificação.
Priscila Cruz, do Todos pela Educação, frisa a importância
da educação infantil (creches, jardim da infância etc.) para dar à criança uma
boa alfabetização. Para que se desperte na criança a facilidade de síntese
cognitiva é importante que ela comece a ouvir histórias ainda no ventre
materno.
O Brasil é um país às avessas. A Constituição de 1988
cometeu o erro de incumbir a União do ensino superior, o estado do ensino
médio, e o município do ensino fundamental. Ora, uma nação se faz com educação.
E a base reside no ensino fundamental. Dele devia cuidar o MEC.
Nenhum governo implementou, ainda, a revolução educacional
sonhada por Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, Paulo Freire e tantos
outros educadores. Como acreditar que apenas 4 horas de permanência na escola
são suficientes para uma boa educação? Por que os alunos não permanecem de 6 a
8 horas por dia na escola, como ocorre em tantos países?
No Brasil, 10% da população adulta são considerados
analfabetos. No Chile, 3,4%. Na Argentina, 2,8%. No Uruguai, 2%. Em Cuba e na
Bolívia, 0%.
Outros fatores que contribuem para a semialfabetização são o
desinteresse dos pais pelo desempenho escolar do filho e o longo tempo que este
dedica à TV e a navegar aleatoriamente na internet. Nessa era imagética, há o
sério risco de se multiplicar o número de analfabetos funcionais ou de
alfabetizados iletrados, aqueles que sabem ler, mas não interpretar o texto, e
muito menos evitar erros primários na escrita.
O governo deve à nação uma eficiente campanha nacional de
alfabetização, inclusive entre alunos dos 3º e 4º anos. Para isso, há que ter
método. Há vários. Quem se interessar por um realmente eficiente, basta indagar
do deputado Tiririca como ele se alfabetizou em dois meses, a tempo de obter
seu diploma na Justiça Eleitoral.
Por Frei Betto
Fonte: Adital
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