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"Se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros". (Che Guevara)

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Maquiagem em notícia vai além da denúncia de jabá na moda

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) está analisando a denúncia de que blogueiras que cobrem moda teriam recebido para promover cosméticos da loja francesa Sephora. Não é de hoje que colegas que atuam na área arrancam os cabelos ao contar histórias de gente do jabá que, em troca de viagens, mordomias, produtos ou o velho e bom dindim, elevam esterco à categoria de produtos de qualidade internacional. Há quem faça qualquer negócio – até porque não se preocupa com o interesse público, mas com sua imagem e conta bancária.
Não existe imparcialidade. E isso se mitiga, em parte, buscando retratar todos os lados da questão e, quando pertinente, deixar claro qual o seu próprio posicionamento. Se pegássemos o QI de uma ostra saudável e subtraíssemos dele o número de estrelinhas do céu, dividindo o resultado pela quantidade de conchinhas do mar, ainda assim ela saberia que este blog tem um viés progressista e de esquerda – o que é uma informação importante, um guia de leitura para entender o que nele há. Transparência é a ideia. Vender, contudo, produto publicitário como jornalístico para tentar se valer da suposta credibilidade da profissão é o fim da picada, o ó do borogodó, a xepa. Vender-se é pior ainda.
Descontados os casos de falta de ética crônica de colegas que se dizem independentes mas que trabalham a soldo de governos e partidos ou de anunciantes nacionais ou estrangeiros, alugando o seu ponto de vista, temos casos tragicômicos no varejo. Colunistas sociais que ganham carros importados e pedem para trocá-los por blindados para falar bem do lançamento do possante. Chefes de redação que acertam com empresas de turismo pacotes para eles, os filhos e os sobrinhos poderem ir à Disney antes de autorizar a publicação de matéria elogiosa para a referida empresa. Editores que, para escrever sobre barcos, ganham barcos de presente. Gente que recebe uma fortuna para tuitar a favor de algo, mas “esquece” de avisar o leitor disso e depois reclama são criticados. Dizem que têm que sobreviver de alguma forma.
Picolés de frutas, pequenos gnomos com a cara do Edward Norton, xampus e sabonetes de qualidade duvidosa e potes de doce de abóbora que o Geraldo da Colina mandou em retribuição à visita são pequenos demais para causar estragos. Os códigos de conduta das redações normalmente mandam devolver “presentes” de grande monta, o que nem sempre ocorre, pois isso snao histórias que vivem penumbra. E nos veículos em que o respeito ao leitor depende da reflexão do indivíduo alçado, justamente, ao papel de jornalista pela internet?
Como já disse anteriormente, ter um diploma em jornalismo não significa exercer a profissão com mais ou menos ética – considerando que a maioria de nós, que fazemos grandes besteiras, frequentamos faculdades. Mas somos legalmente e socialmente responsáveis por aquilo que veiculamos (soa meio Pequeno Príncipe, mas é verdade). Portanto espaços de discussão da profissão, para aprendermos com nossos erros e entendermos o potencial de impactos de nossas ações, são mais do que necessários.
Anúncios com cara de reportagem têm sido cada vez mais comuns. De blogs a revistas, aparecem como material noticioso sem o “Informe Publicitário” ou “Publieditorial” – que já é insuficiente por si, a bem da verdade. É papel de uma marca tentar melhorar sua imagem. Mas é dever de quem assume o papel de jornalista  não deixar ser usado como escadinha ou lava-rápido da reputação alheia.
Por fim, uma das tentativas mais comuns de agredir um jornalista é sugerir que ele “leva um por fora”. Se é algo que atinge a administração Dilma, é um tucano. Se é uma crítica à administração Alckmin, dá-lhe petista. Se é crítico a uma grande obra de engenharia que está engolindo comunidades tradicionais, o sujeito é um bastardo vendido para o Tio Sam por um mísero iPhone. Ou um Homem das Cavernas, que não ousa ver a terra brasilis alcançando o destino deveras glorioso para o qual estava abençoado desde que se deitou no berço esplêndido de sua fundação (porque, na internet, não basta ser conservador, tem que ser barroco rococó).
Tem muita gente vendida por aí? Ah, sim, claro, como este post bem lembra. O que assusta muita gente é que existam aqueles que não estão à venda. Neste mundo que cisma em ser pós-moderno é difícil explicar que ainda há alguns nortes que valem a pena ser seguidos. Não grandes discursos de Verdade, pois essa não existe. Mas básicas que, construídas e compartilhadas, tornam a existência mais justa para todos.
Para quem acredita que a vida é um grande “cada um por si e Deus por todos”, isso deve ser extremamente desesperador.
Fonte: Blog do Sakamoto

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