Enquanto o governo impõe um freio de arrumação na
telefonia, com duras sanções a três grandes operadoras - TIM, Claro e Oi -, a
mudança de rumos no setor elétrico também caminha, mas de forma mais lenta e
complexa, conduzida quase exclusivamente pela mão pesada do Estado. Na atual
fase do modelo criado no governo Lula pela então ministra de Minas e Energia
Dilma Rousseff, a Eletrobras se tornou um símbolo graças ao seu papel nos
consórcios construtores de gigantescos projetos hidrelétricos - Jirau e Santo
Antônio, em Roraima, e Belo Monte, no Pará - e por colocar sob seu guarda-chuva
distribuidoras estaduais quebradas e campeãs de queixas da clientela.
Os investimentos bilionários programados para o setor se concentram nas
áreas de geração e transmissão, sem interferir ainda na melhora dos indicadores
gerais de qualidade, conforme mostram números expressivos de reclamações nos
órgãos de defesa do consumidor. "Nenhuma autoridade dessa área que tem
grande envolvimento da presidente Dilma ousa fazer contestações ou tomar
medidas sem a avaliação prévia dela", disse ao Correio o presidente de uma
entidade representativa de empresas de energia. Segundo ele, esse quadro faz
com que decisões importantes sejam adiadas e agravem nós regulatórios e de
mercado, "mesmo havendo diagnósticos de amplo consenso".
Até mesmo mudanças estratégicas para a economia, como a renovação das
concessões do setor elétrico que terminam em 2015, se arrastam para além dos
prazos fixados em contrato, deixando investidores apreensivos. Por outro lado,
executivos temem que a provável redução de receita das concessionárias em razão
das novas bases contratuais restrinja a capacidade de investir. Concessões que
estão para ser renovadas representam 43% da energia gerada pelas empresas do
Grupo Eletrobras.
O novo cenário desafia a atuação da estatal no mercado como principal
sócio de novas usinas e veículo de resgate para distribuidoras em dificuldades
financeiras. Já foram federalizadas sete companhias e outras duas estão na
mira. Nos últimos anos, a Eletrobras passou a ser usada pelo Planalto para
socorrer empresas regionais, como a goiana Celg, cujo controle foi assumido em
abril mediante medida provisória que alterou seu estatuto social.
Segundo o texto de uma medida provisória, de abril passado, que
modificou seus estatutos, a estatal federal pode agora associar-se, "com
ou sem aporte de recursos", em consórcios ou participação societárias no
Brasil e no exterior, "com ou sem poder de controle". As compras de
participação acionária também podem ser feitas sem licitação. "Na prática,
o governo está montando uma superelétrica, mas sem deixar esse plano
explícito", disse um especialista.
A nova configuração da chamada "Petrobras do setor elétrico"
poderá agilizar novas investidas, sobretudo quando a crise de distribuidoras
locais piora com multas e sanções impostas pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) em razão de péssimos indicadores de qualidade dos serviços
(veja quadro). "Uma das grandes dificuldades de organizar o setor é
enquadrar as distribuidoras estatais. É mais fácil para a Aneel cobrar
correções de rumo de um concessionário privado do que de um público. O bolso do
dono dói mais que o do Tesouro", brincou o ministro do Tribunal de Contas
da União (TCU), José Jorge, ex-presidente da Companhia Energética de Brasília
(CEB).
Outro exemplo de como decisões políticas amparadas em avaliações
técnicas custam a virar realidade é a desoneração na conta de luz, velha
reivindicação do próprio setor com forte apoio de todas as indústrias sob o
argumento de perda de competitividade nacional. Na quinta-feira, o ministro de
Minas e Energia, Edison Lobão, disse que os penduricalhos setoriais serão
eliminados de modo que a tarifa de energia elétrica tenha um alívio de 10% ou
mais. Esse anúncio é esperado para agosto.
Campeãs de queixas
Relação das distribuidoras com piores indicadores oficiais do setor
elétrico
Posição Empresa Estado
1º Celpa PA
2º Cepisa PI
3º Light RJ
4º Ceal AL
5º ESE SE
6º Celg GO
7º CEB DF
8º Ceron RO
9º Ampla (Endesa) RJ
10º Celtins TO
Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Fonte:Correio Braziliense
Por Sílvio Ribas
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