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quarta-feira, 21 de março de 2012

Após audiência, impasse continua: técnicos da Norte Energia afirmam que população abaixo do muro de Belo Monte não será atingida, mas os moradores já sentem os impactos


Duas mil pessoas participaram de audiência pública em Vitória do Xingu para debater os impactos negativos abaixo do muro da barragem, se a hidrelétrica for realmente construída. Entre os participantes, a grande maioria pescadores, havia uma presença expressiva de mulheres e crianças. Coordenado pelo MAB, o evento aconteceu nesse dia 20/03, teve como parte principal a fala do povo, e contou com a participação da Norte Energia, que foi convocada a prestar esclarecimentos.

As pessoas reclamaram de políticas públicas elementares e do seu abandono pelos governos. Alguns se disseram perseguidos por órgãos ambientais quando precisam construir sua casa ou pescar para matar a fome. Todos reclamaram da piora da qualidade da água depois do início da construção da barragem de Belo Monte, e temem que essa situação vá piorando com o avanço das obras. Afirmaram que sentem os impactos negativos da barragem em suas vidas. E criticaram a Norte Energia, que age como se fosse o poder público em toda a região: 'tudo agora é Norte energia', afirmaram.

Os representantes da Norte Energia responderam às perguntas de forma evasiva. Frisaram, principalmente, os programas de compensação de impactos através, principalmente, de convênios assinados com prefeituras e outras entidades. Segundo disseram, existem 158 obras em andamento. Por fim, afirmaram que os estudos não apontam a população abaixo do futuro muro de Belo Monte como atingida. 

Rogério Paulo Höhn, da coordenação do MAB, lembrou o Decreto Presidencial de dezembro de 2010, assinado pelo então Presidente Lula, que  reconhece os moradores abaixo de muro de barragem como atingidos. Denunciou ainda o aumento de câncer do colo de útero entre as mulheres abaixo do muro da barragem de Tucuruí, e atingidas pelo empreendimento. E a mortandade de peixes no fechamento do lago de Estreito, chegando a 80 toneladas de peixes mortos. Lembrou também que 'o MAB é contrário a essa obra. Belo Monte está sendo enfiada goela abaixo. Nossos direitos precedem a construção da barragem, isso significa que sem a barragem precisamos ter nossos direitos garantidos', disse ele. E informou que a energia não é para o povo, pois, enquanto a Vale paga três  centavos por 1 kw de energia, as famílias no Pará pagam cinqüenta centavos. 

Moisés Ribeiro, também da coordenação do MAB, reafirmou  a postura do Movimento contrária à construção de Belo Monte e disse que 'essa audiência já é uma conquista do povo. Se não tivéssemos ido lá e exigido, ela não estaria acontecendo', referindo-se à pressão na Norte Energia no dia 14 de março, com marcha e participação de 500 pessoas. 

Os participantes repudiaram, de forma veemente, a ausência do IBAMA, que fora convidado e não compareceu: 'ele que aprovou essa obra, e hoje deveria estar aqui', disseram. E saíram convictos de que somente a luta vai fazer valer os seus direitos. Em breve estarão se reunindo para planejar os próximos passos. 

Os policiais militares aproveitaram o evento para  mostrar suas caminhonetas novas e, agora, também um helicóptero, o qual sobrevoou o local por diversas vezes, tudo patrocinado pela Norte Energia. 

Fonte: MAB
“Água e Energia não são mercadorias!
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