Duas mil pessoas
participaram de audiência pública em Vitória do Xingu para debater os impactos
negativos abaixo do muro da barragem, se a hidrelétrica for realmente
construída. Entre os participantes, a grande maioria pescadores, havia uma
presença expressiva de mulheres e crianças. Coordenado pelo MAB, o evento
aconteceu nesse dia 20/03, teve como parte principal a fala do povo, e contou
com a participação da Norte Energia, que foi convocada a prestar
esclarecimentos.
As pessoas reclamaram
de políticas públicas elementares e do seu abandono pelos governos. Alguns se
disseram perseguidos por órgãos ambientais quando precisam construir sua casa
ou pescar para matar a fome. Todos reclamaram da piora da qualidade da água
depois do início da construção da barragem de Belo Monte, e temem que essa
situação vá piorando com o avanço das obras. Afirmaram que sentem os impactos
negativos da barragem em suas vidas. E criticaram a Norte Energia, que age como
se fosse o poder público em toda a região: 'tudo agora é Norte energia',
afirmaram.
Os representantes da Norte Energia
responderam às perguntas de forma evasiva. Frisaram, principalmente, os
programas de compensação de impactos através, principalmente, de convênios
assinados com prefeituras e outras entidades. Segundo disseram, existem 158
obras em andamento. Por fim, afirmaram que os estudos não apontam a população
abaixo do futuro muro de Belo Monte como atingida.
Rogério Paulo Höhn, da coordenação do
MAB, lembrou o Decreto Presidencial de dezembro de 2010, assinado pelo então
Presidente Lula, que reconhece os moradores abaixo de muro de barragem
como atingidos. Denunciou ainda o aumento de câncer do colo de útero entre as
mulheres abaixo do muro da barragem de Tucuruí, e atingidas pelo
empreendimento. E a mortandade de peixes no fechamento do lago de Estreito,
chegando a 80 toneladas de peixes mortos. Lembrou também que 'o MAB é contrário
a essa obra. Belo Monte está sendo enfiada goela abaixo. Nossos direitos
precedem a construção da barragem, isso significa que sem a barragem precisamos
ter nossos direitos garantidos', disse ele. E informou que a energia não é para
o povo, pois, enquanto a Vale paga três centavos por 1 kw de energia, as
famílias no Pará pagam cinqüenta centavos.
Moisés Ribeiro, também da coordenação
do MAB, reafirmou a postura do Movimento contrária à construção de Belo Monte
e disse que 'essa audiência já é uma conquista do povo. Se não tivéssemos ido
lá e exigido, ela não estaria acontecendo', referindo-se à pressão na Norte
Energia no dia 14 de março, com marcha e participação de 500 pessoas.
Os participantes repudiaram, de forma
veemente, a ausência do IBAMA, que fora convidado e não compareceu: 'ele que
aprovou essa obra, e hoje deveria estar aqui', disseram. E saíram convictos de
que somente a luta vai fazer valer os seus direitos. Em breve estarão se
reunindo para planejar os próximos passos.
Os policiais militares aproveitaram o
evento para mostrar suas caminhonetas novas e, agora, também um
helicóptero, o qual sobrevoou o local por diversas vezes, tudo patrocinado pela
Norte Energia.
“Água
e Energia não são mercadorias!
Água
e Energia são pra soberania!”
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