Desde o Leilão de Construção da Hidrelétrica de Belo Monte, o povo altamirense tem vivenciado um acelerado processo de transformação na sua cidade e por que não dizer que em toda região da Transamazônica e Xingu, onde são áreas de influências desse projeto que não se tem dimensão real de seus impactos.
Todas essas mudanças acontecidas da noite para o dia vêm acarretando enormes transtornos à classe trabalhadora, a classe que de fato produz riqueza nessa cidade. Todos esses problemas agora sentidos na pele pelos altamirenses foram previstos desde a gênese desse projeto há 35 anos. Àqueles que dependem dos serviços básicos públicos em Altamira, simplesmente estão à mercê da sorte, uma vez que os aparelhos sociais não suportam o número de pessoas dependentes de seus serviços. Os postos de saúde diariamente com filas sem fim e sem presença de médicos para atender os usuários. No tangente a segurança pública, a população nunca se sentiu tão insegura, uma vez que o número de assassinatos, roubos e arrombamentos cada vez mais ocupam destaques nos noticiários locais.
Poderia aqui fazer uma lista infinita das mazelas sociais causadas por conseqüência de Belo Monte, mas quero debruçar-me sobre uma em especial, a questão da moradia.
Quantos pais e mães de família trabalham um mês todo para receber um mísero salário mínimo ou até menos, e dessa pequena quantia tem que fazer a feira mensal e ainda pagar aluguel? Mas, mesmo assim esse povo sofrido fazendo todos os tipos de economias de um lado e de outro, conseguiam sobreviver. No entanto, com o acelerado inchaço populacional, juntamente com a especulação imobiliária, o preço dos aluguéis tiveram um enorme salto. Assim, quem recebe apenas um salário mínimo e não tem casa própria ficam impedidos de ter uma moradia. Aluguéis que antes custavam R$ 180,00, hoje custa R$ 350,00, um aumento de 94,4%. Para quem ganha apenas um salário mínimo mensal, depois do aluguel pago, sobra apenas R$ 195,00, que terá que dividir para pagar a conta de luz, que é outro assalto mensal sofrido pelos trabalhadores e trabalhadoras e, por fim sobra o dinheiro da feira.
Agora imaginem, uma família constituída por três pessoas ( e estou sendo generoso com a quantidade de pessoa por família nesse exemplo) que pagaram de conta de luz um valor de R$ 50,00, assim restou à família R$ 145,00 para comprar a alimentação. Mas, será que essa pequena quantia dá para passar o mês? E, nós trabalhadores não vivemos apenas de pão! E o direito a cultura e o lazer? Que estupidez minha pensar em cultura e lazer se, nem o pão de cada dia nos é garantido!
Nesse contexto de aumento de privações de direitos, a classe oprimida como num lapso generalizado de consciência de classe, se organizam para garantir seu direito constituído na Carta Magna do nosso País: O Direito a Moradia. Surgem então as ocupações urbanas.
Essas ocupações são apenas resultados de um centenário de exploração de um povo lutador cansado da lida diária que não lhe rendeu se quer um teto pra morar, enquanto seus patrões a cada dia ficaram mais ricos. E hoje entendem que esse teto, esse pequeno pedaço de chão não lhes serão presenteados, mas sim conquistados à custa de muita luta com uma boa organização e consciência de CLASSE TRABALHADORA.
Nesse sentido as três novas ocupações se diferenciam de outras ocorridas posteriormente em Altamira, pois cada homem e mulher presentes naqueles pedaços de terra vêm nesse momento histórico a chance de conquistar o sonho de toda uma vida, entendendo que a luta é coletiva, tendo em vista que além da conquista da terra, a unidade entre eles já é a sua primeira vitória.
E como em qualquer parte do mundo, quando os trabalhadores se organizam, a burguesia tem a sua reação imediata. Usando de todos os meios de comunicação que eles têm nas mãos, propagandeiam crimes cometidos por parte dos ocupantes das suas terras, na tentativa de colocar o povo contra o povo. Acionam a justiça para denunciar crimes ambientais, como se fossem defensores da natureza. E se julgam os produtores de riqueza da região.
Ainda bem que a população altamirense já compreende a verdadeira intenção da aquisição de canais de televisão por parte de vários grupos burgueses: a alienação, a distorção dos fatos de acordo com seus interesses, a criminalização das organizações populares.
E qual moral a burguesia tem para denunciar crimes ambientais? Chegou a ser irônico ver o representante dos grandes ruralistas, grupo responsável por um grande número de desmatamento ilegal na região, dizer que nas ocupações está havendo crime ambiental. Dizendo que a justiça não pune os ocupantes por crimes ambientais, enquanto eles (ruralistas) são punidos por derrubar para produzir a riqueza da transamazônica. Aqui vale uma correção, a burguesia nunca produziu e nem produzirá riqueza em qualquer parte do mundo, os produtores de riqueza são os trabalhadores e trabalhadoras, os burgueses cumprem o papel de explorar a mão-de-obra e por fim expropriar a riqueza produzida por cada homem e mulher.
Vale ressaltar que esse processo de intensificação de luta de classes é reflexo do acelerado avanço do capital em toda região da Transamazônica e Xingu, uma vez que os trabalhadores que apesar de todas as privações já vividas há muito tempo estavam numa zona de conforto, e nesse momento da história perceberam que não tinham outra saída se não se organizarem e irem à luta. Por outro lado empresários e fazendeiros que são os latifundiários rurais e urbanos, grande defensores de Belo Monte, estão sentindo na pele o inicio das conseqüências desse projeto de morte, pois pensavam apenas em aumentar suas riquezas, não perceberam que seus coveiros só estavam se multiplicando a cada dia.
E o povo não pára de lutar, uma vez a classe trabalhadora organizada os avanços das conquistas só tende a continuar. Os primeiros passos já foram dados, homens e mulheres estão na terra, agora é fortalecer a unidade e resistir aos opressores.
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